outros mundos
O amor era, em nós, a tentativa desesperada para eliminar das possibilidades os outros mundos coexistentes àquele em que momentaneamente desejássemos ficar. E só podia ser, no fim de contas, uma espécie de grilheta, chumbada aos pés, com que nos amarrávamos a um mundo que desaparecia (e para perpetuá-lo), sem conseguirmos detê-lo, e apenas conseguindo atrasar a nossa passagem de um mundo para outro a que esse amor não pertencia, e conseguindo perturbar, nesse outro, a ordem dele e a paz que essa ordem nos daria. Não era que nós não possuíssemos totalmente uma pessoa, e que ela se nos não entregasse totalmente. A totalidade é que se referia só ao mundo em que se localizava, e noutro era incompleta ou não tinha sentido. Nenhum mundo, porém, desses pequeninos mundos latentes ou evidentes, que coexistiam em nós, era o que se dizia a nossa consciência ou o nosso ser. Todos eles eram feitos de várias consciências e vários seres. E a nossa consciência possível de seres viventes fazia-se, e flutuantemente, de pequenas porções desses conjuntos que éramos.
Jorge de Sena, Sinais de Fogo
li «Sinais de Fogo» há já uns anos. estás a gostar?
maria m. said this on Dezembro 2, 2009 às 13:24 |
se não estivesse, já teria arrumado ;)
salamandrine said this on Dezembro 2, 2009 às 13:47 |