Rossio, 2 de Maio, Surrealistas. O Gelo.

No Rossio sobrava ainda o Gelo, mas, sem literatos nem estudantes, expulsos no dia 2 de Maio de 1962. Na véspera, tinha sido o célebre 1º de Maio de 1962 e os surrealistas resolveram responder à carga policial com o arremesso do que tinham à mão… sobretudo os pesados açucareiros. No fim da refrega o Gelo ficou com a fachada pintada de azul (testemunho da intervenção do “carro da água”, que não deitava água mas tinta) e a Polícia, no dia seguinte, quis saber quem tinham sido os “arruaceiros”. O gerente do Gelo — honra lhe seja feita — negou-se à denúncia, mas, a partir de então, proibiu a entrada a tudo o que lhe cheirasse a intelectual. Segundo descrição de Pacheco, os incidentes desse dia

foram desde o cómico — o pai da actriz Fernanda Alves a puxar de um canivete que nem para limpar unhas servia e a dizer que com ele se defenderia da Polícia, a um criado careca e que todos diziam bufo a levar trolha valente dos chuis, a um qualquer a limparem-lhe sangue e açúcar na cabeça, que as armas da malta eram os antigos açucareiros do Gelo, pesados pois eram umas esferas de metal que magoavam mesmo — à desgraça de uma moça, ferida brutalmente na perna, ao susto que apanhei dançando diante de uma fera fardada e apontando-lhe para os meus óculos e safei-me — havia, como ia dizendo ao princípio, no Café Gelo um grupo, o Grupo do Gelo, que durou anos e se seguia ou continuava a um outro, com ele identificado, do Café Royal, ali ao Largo Duque da Terceira. Quase tudo surrealistas ou dizendo-se, fazendo por isso, em verso e prosa e comportamento […].

(Textos de Guerrilha – I)


João Pedro George / Luiz Pacheco

Puta que os Pariu!
A Biografia de Luiz Pacheco

© Tinta da China

~ por salamandrine em Março 13, 2012.

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