tantas almas presas, tantos policias prontos. dedos sempre em riste, eu sou melhor do que tu. eu obedeço. eu porto-me bem. i’m a goood girl. senhor polícia, leve aquele. aquele que eu aponto. não sei porque está ali, mas não pode estar, dizem que é para estarmos fechados. eu obedeço. dê-me a medalha. e a recompensa? a recompensa de apontar a dedo os meninos maus, os que não fazem como eu. goood girl.
30 anos
•Abril 26, 2016 • 1 ComentárioEstas pessoas fogem umas das outras. Fogem de si mesmas. Fogem do que lá descobriram sobre o homem… O que dele veio à superfície. Debaixo da pele. É isso… Eis porque… Algo ali… Em Chernobyl… Eu também conheci, senti aquilo de que não se quer falar. Por exemplo, que todas as nossas noções humanistas são relativas… Numa situação extrema, o homem, na realidade, não é de todo o homem que se descreve nos livros. Não encontrei, não me cruzei com o homem tal como aparece nos livros. É tudo o contrário. O homem não é um herói. Somos todos vendedores do apocalipse. Grandes e pequenos. Fragmentos instantâneos da memória…
Svetlana Alexievich, Vozes de Chernobyl
tradução de Galina Mitrakhovich
editora Elsinore
Image: Christopher Miller/Mashable
O que acharia Hélia Correia
•Dezembro 9, 2015 • Deixe um ComentárioUma espiral obsessiva e escura, que nos arrasta e faz nossa aquela doença. sem meio-termo.
Já vou na segunda tentativa de livro pós-este e não está a ser fácil arrancar-me de lá e conseguir interagir com outro universo. O Calvino tem demasiado mundo. Tento pela jogada fácil: Oscar Wilde. Substituir obsessão e doença por obsessão e doença.
Consegui, também, a proeza de ter o livro completamente entranhado no álbum dos EL VY. Não devo ter lido uma página dele sem ter estado a ouvi-lo. De tal modo que aos primeiros acordes de qualquer música, sou imediatamente arrastada para o mundo de Lizzie; ou, se pensar no livro, na minha cabeça ressoam imediatamente músicas do álbum. São 2 mundos exagerados, compulsivos. Ou talvez seja o que fiz deles, misturando-os.
Que acharia Hélia Correia disto?
e depois?
•Setembro 20, 2015 • 1 Comentárioler o quê? escrever o quê?
Monumental. Não encontro outra palavra. É dos que, ao lado da Montanha Mágica, nunca mais nos vão largar, se nos colam à pele, à alma, e passam a viver connosco, parte do que passamos a ser.
E onde está Jaume Cabré? Porque se conhece tão pouco? Porque se idolatra tantos, de tantos se criam cultos, e Cabré? São tão poucos os que conseguem chegar-nos assim, tão poucos os que deixam a escrita para lá da escrita, para além das palavras, signos vivos, ar que respiramos, vidas que também vivemos.
E a tarefa ingrata de pensar: e agora, leio o quê?
hoje vi-te
•Agosto 20, 2015 • Deixe um ComentárioLionel Asbo,
Vi-te, com ar de rufia envelhecido, 50entas, perto dos sessenta, barriga proeminente, fato-de-treino, preto, cheio de pinta. Cigarro ao canto da boca, com um olho meio fechado. Bad Ass!
E o cabelo? Rapado a toda a volta do crânio e, no topo, pouco mais que pente 4, uma coroa pintada, platinada. A argola!, Claro, uma argolinha de ouro, na orelha esquerda.
New age
•Junho 15, 2015 • Deixe um ComentárioQue estúpido país de tarados! Aqui, toda as jovens bebem água em quantidades tão grandes que ela acaba por lhes sair pelos ouvidos, porque pensam que isso “faz bem” e é “saudável”, embora tenha por único resultado a subida em flecha de jovens incontinentes no país. As crianças comem massa integral, pão integral e toda a espécie de estranhas variedades de arroz integral que os seus estômagos não digerem completamente, o que pouco importa, porque os produtos integrais “fazem bem” e são “saudáveis” pelo simples facto de serem “integrais”. Mas o quye se passa é que confundiram a alimentação com o espírito, pensam que através do que comem podem tornar-se seres humanos melhores, sem se darem conta de que os alimentos são uma coisa e as ideias que os alimentos evocam, outra e muito diferente. E quem lhes diga estas coisas, quem lhes diga alguma coisa que se pareça, ou é um reaccionário ou não passa de um norueguês — ou, por outras palavras, alguém com dez anos de atraso sobre o seu tempo.
Karl Ove Knausgård, Um Homem Apaixonado
tradução de Miguel Serras Pereira
Relógio d’Água
José Rodrigues dos Santos
•Maio 28, 2015 • Deixe um ComentárioJosé Rodrigues dos Santos: O reconhecimento da televisão acontece, mas é muito minoritário. O público médio de televisão não compra livros. A motivação de ser uma figura pública não é relevante. Aliás, muitas vezes é motivo de desconfiança.
Entre o “gaba-te ó cesto” (lamento, moço, mas quem gosta de livros “à séria”, não é os teus que lê) e o desprezo pelos idiotas acéfalos que vêm televisão, e que, pelo visto, nem sequer sabem o que é um livro, quanto mais os dele, altamente intelectuais e cheios de palavras difíceis.
I do wonder quem é que compra essa merda toda.
um dia
•Maio 14, 2015 • Deixe um ComentárioEste é o tipo de coisas, pensei eu, que nunca conseguimos ver nas notícias da televisão. São silenciosas conspirações de pessoas que parecem entender-se sem falar, caladas rebeliões que a cada momento têm lugar no mundo sem que sejam apercebidas, grupos que se formam ao acaso, espontâneas reuniões no meio do parque ou na esquina escura, e que nos permitem, de em quando, ser optimistas a respeito do futuro da humanidade. Juntam-se durante uns minutos e depois separam-se, e todos se afirmam na luta subterrânea contra a miséria moral. Um dia, sublevar-se-ão com fúria inédita e dinamitarão tudo.
Enrique Vila-Matas, Kassel não convida à lógica
tradução de Miranda das Neves
Teodolito
Zanguei-me com o Vila-Matas quando aceitou deixar de ser traduzido pelo Fallorca. Mesmo que já só o lesse em castelhano. Zanguei-me. Com as tricas, com a passividade, com o desgosto.
Volto a lê-lo traduzido. Não vou dizer que está mal traduzido. Não está. Falta-lhe a cumplicidade flâneur de Fallorca, um entendimento para lá das palavras. É uma ausência que paira entrelinhas. Hoje, no dia em que ele me gozaria por me ver, finalmente, calçar uns sanjo em vez dos meus all-star.
Saudades da fúria pouco silenciosa dele.
… há muito tempo que não liga algo que me comovesse…
saudades
•Março 11, 2015 • Deixe um Comentário
do silêncio.
das rolas. das andorinhas. das pegas. das cegonhas. dos bandos descarados de estorninhos. dos coelhos. das lebres.
das oliveiras. dos rios. do Enxoé, do Guadiana.
da luz.
Beauvoir
•Janeiro 9, 2015 • Deixe um ComentárioJe suis née à quatre heures du matin, le 9 janvier 1908, dans une chambre aux meubles laqués de blanc, qui donnait sur le boulevard Raspail.
the day after
•Janeiro 8, 2015 • Deixe um ComentárioDurante a noite, três mesquitas foram atacadas e o carro de uma família muçulmana baleado.
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=4329947&page=3
Se for eleita presidente de França, Marine Le Pen vai propor um referendo sobre a pena de morte, a que é “pessoalmente favorável”.
http://economico.sapo.pt/noticias/le-pen-promete-levar-pena-de-morte-a-referendo_209476.html
enche-me de medo
•Janeiro 7, 2015 • Deixe um Comentárioa mansidão dos que tudo aceitam “para o nosso bem”.
Her
•Dezembro 14, 2014 • Deixe um ComentárioO que me enerva no Her, do Spike Jonze, é que soa a falsa premissa. A fantasia com ambições a vida real, dá-me nos nervos. A idealização adolescente irrita-me. Como se todos quiséssemos sonhar com relações que não existem, com alguém que só é aquilo que sonhamos.
A vida real é mais interessante do que as idealizações. É uma merda e dá-nos pontapés no cu com uma pinta do caraças, mas ninguém é tão previsível (se valer a pena) como os alguéns de sonhos adolescentes, de amores que nunca são. A vida real pode ser uma desilusão, é-o com certeza, se a passarmos à espera do eternal sunshine of the spotless mind ou de uma Her.
grow up!
Comentários Recentes